domingo, 24 de outubro de 2010

Educação, essa palavra

Reuni, ProUni, Reforma Universitária... em três palavras podemos dizer muito pelo o que já passou a educação brasileira nos últimos anos, em especial o ensino superior. Palavras revestidas de conteúdo pesado e    indigesto, seja    da maneira como foi/é implementada, como da perspectiva inerente de futuro da educação à qual aponta. Apontam um norte perverso, de um futuro no qual grande parcela da juventude fica isolada apenas ao sonho.

Sonho que se acende. Sonho de acesso ao ensino público, ao trabalho, renda, moradia... Futuro no qual sempre são colocados para passar por um funil. Funil apertado, diga-se de passagem... Mas de onde vem este aperto? Seria um “mal necessário”? Ou seriam as pessoas de tamanhos diferentes? Embora haja insistência na velha tese de que todos nascem iguais, sabemos que não é bem assim. As desigualdades geradas e acumuladas historicamente em nossa sociedade contribuem para a manutenção de um quadro perverso, no qual a população mais pobre tem menos condições de acesso em relação às mais ricas. 
O sonho persiste. Entremeados à jornadas extensas de trabalho, muitos tentam e desistem no meio do caminho, outros são laçados pelos tentáculo do ensino privado, em seus cursinhos e grandes “empresas da educação”. Mas quem conquista o fetiche do ensino superior público ainda é uma minoria. O sonho morre.

Mas a organização é possível. Seja no movimento estudantil, nos movimentos sociais, nas organizações políticas, estão lá vários e vários sonhadores, que ultrapassam a barreira do impossível nas lutas cotidianas. Um plano de metas fantasiosas, como o plano nacional de educação, não resolve nossa situação. A entrada de um ou outro governo também não. Não se fala de metas sem falar de financiamento, e não se fala de financiamento sem falar em prioridades, e não se fala em prioridades sem falar de um posicionamento claro de sociedade. Aquela na qual a juventude tem acesso livre à educação, trabalho, renda, moradia, terra... aos seus próprios sonhos.

Reunião Preparatória do IV ECR

O Encontro de Comunidades de Resistência (ECR) é uma atividade organizada pelas Brigadas Populares, que reúne várias comunidades da região metropolitana de Belo Horizonte com o objetivo de:

- Trocar experiências de organização e luta nos bairros;

- Fortalecer uma pauta de reivindicações comuns para as comunidades;

- Articular formas de solidariedade entre as comunidades de periferia da Grande BH;
- Ampliar a organização popular no interior das comunidades.

O IV ECR tem como tema “Por Uma Nova Maioria”, possui como objetivo central a aproximação das comunidades para uma luta em conjunto, juntamente com o fortalecimento das organizações nos bairros, comunidades, regionais e cidades da região metropolitana de Belo Horizonte.

A participação dos estudantes sempre foi bastante expressiva nas outras edições do Encontro. Desta presença surgiram vários projetos de solidariedade entre estudantes e as comunidades e ocupações com trabalhos na área de educação, saúde, arquitetura, direito, entre outros projetos.

O Núcleo IKATU convida a todos/as para estarem conosco na reunião preparatória e participarem do IV ECR.

DEBATE PREPARATÓRIO
Data: 05 de novembro
Horário: 13:30h
Local: Centro Acadêmico de Filosofia - Cafca- 3° andar -Fafich
Contato: nucleoikatu@gmail.com

Eleições e Reforma Política

Assistimos mais uma vez ao processo eleitoral. Milhões de eleitores saíram de suas casas e votaram. Deputados, senadores, governadores foram eleitos. Tudo correu na mais perfeita ordem.

Contudo, diante da mais aparente normalidade, uma reforma política está cada dia mais urgente. Seja para ampliar a forma de participação e inclusão de setores marginalizados da sociedade como também acabar com medidas que transbordam a disputa política à justiça. Uma reforma política que seja capaz de possibilitar tanto maior controle dos eleitores sobre seus representantes quanto um maior incentivo à participação.

A forma como se elegem os representantes contamina, por suposto, o processo de tomada de decisão, ou seja, se um político é eleito devido ao poderio econômico, como prevalece no sistema atual, será também através dos interesses econômicos que esse político guiará suas ações políticas. Podemos citar alguns exemplos que contrarie o mecanismo geral, mas nada que possa contrariar o próprio sistema.

Não há formulas mágicas ou “a melhor reforma política”. Temos que pensar o que queremos combater e o que queremos reforçar. A forma mais eficiente de combater o abuso do poder econômico é o financiamento público das campanhas. Teremos assim uma disputada mais equânime que, em tese, prevaleceria o confronto de idéias.

Nessas eleições assistimos ao fenômeno Tiririca, deputado federal mais votado do Brasil. Um outsider da política, um típico voto de protesto. A primeira reação é a postura conservadora de acusar os eleitores de estarem “jogando seu voto fora”. Contudo, figuras exóticas, como o humorista, apenas se elegem em decorrência do nosso sistema eleitoral que reforça o voto em pessoas. Um caso exemplar do esvaziamento presente da atividade parlamentar apontando para a diminuição da própria noção de representação.

Nada diferente se poderia esperar quando o próprio direito é obrigatório. Se em algum momento foi justificado a opção pelo voto obrigatório, hoje não é mais. Não há mais motivos para tutelar os posicionamentos. O fim do voto obrigatório é o inicio efetivo da afirmação de um direito duramente conquistado.

Uma reforma política para ser de fato efetiva precisa ir além dos mecanismos de escolhas eleitorais. Deve, por conseguinte, aprimorar e ampliar a participação política para além dos momentos eleitorais. Necessita afetar, portanto, o próprio modo de exercício do poder deixando-o mais transparente e sob o controle da população.

Ocupações urbanas: massacre anunciado


A longa jornada da população sem-teto de Belo Horizonte assumi contornos dramáticos. Atualmente 1500 famílias, das ocupações Dandara, Torres Gêmeas, Camilo Torres e Irmã Dorothy encontram-se ameaçadas de despejo. A Prefeitura de Belo Horizonte e o Governo do Estado se recusam a abrir a mesa de negociação e discutir uma solução. A situação se agrava, pois a posição fundamentalista das autoridades públicas e do Tribunal de Justiça cria a constante possibilidade de despejo forçado dos moradores das referidas ocupações, o que significa o risco de morte para milhares de pessoas em plena capital mineira: um massacre anunciado.

As lutas não param, a repressão também não. No dia 20 de setembro, um pequeno incêndio em uma das Torres Gêmeas (ocupação em Santa Teresa/BH), foi a motivo para que a PM despejasse 168 famílias, que perderam a moradia que tinha mais de 15 anos. O povo foi as ruas. No dia 29 de setembro as Brigadas Populares organizaram um acampamento com delegações de todas as ocupações da capital na porta da Prefeitura para exigir uma solução para além dos despejos. A Guarda Municipal usou de violência contra as famílias, usando cacetes e spray de pimenta. O povo resistiu. O acampamento permaneceu até o dia 01 de outubro, e contou com a solidariedade de centenas de pessoas. O prefeito e empresário Márcio Lacerda não recebeu os manifestantes.

Cada vez está mais clara a incapacidade de governantes, como Anastásia e Lacerda, em governar para os pobres e dialogar com os movimentos sociais. A solidariedade de toda a sociedade é fundamental para a resistência das ocupações, para que se possa evitar o fim trágico da jornada dos sem-teto de BH na luta por seus direitos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cidade e universidade

Imagem: Banksy



Cidade. Fenômeno que cerca a universidade por todos os lados. Lugar dos nascimentos e dos óbitos cotidianos, e entre estes dois fatos consumados uma possibilidade: pessoas. A cidade vai além do lugar onde as pessoas nascem e morrem. É o emaranhado de relações que constitui e divide seres, que nascem e morrem, em determinados conjuntos de pessoas, ou classes. Os que andam de carro e os que usam ônibus, aqueles que andam a pé ou de bicicleta. Pessoas que moram em uma casa que é sua,  que moram em um quarteirão que é seu, ou que não moram em lugar nenhum, mas são encontradas ali, na rua, ao lado dos que anda a pé ou de carro. Há pessoas que trabalham muito, há pessoas que ganham muito. Portanto, a cidade é sobretudo, a relação entre estes diferentes conjuntos de pessoas, que disputam e vencem, ou perdem, em um conflito que dá forma ao que chamamos de urbano. E a universidade, o que é?

    Não há resposta fácil, mais como a cidade e as pessoas, a universidade pode ser considerada também uma possibilidade. Enquanto possibilidade depende da disputa, do conflito e do debate necessário em torno de sua própria existência. Mas a universidade se afirmará como uma realidade e não apenas uma projeção, quando se conectar intimamente com a cidade e ligar seu destino a ela. Se conectar com as grandes maiorias anônimas que moram em algum lugar, ou em lugar nenhum, que ganham o possível para continuar trabalhando, enfim são aqueles e aquelas que disputam a cidade por existirem, mas também para poderem existir.

    Portanto, a universidade é uma possibilidade, porque não é de fato uma instituição de ensino, como dizia Paulo Freire “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, as pessoas se educam entre si, mediadas pelo mundo”, de outro modo a universidade deve ser educada pelas pessoas, pela cidade para assim atingir a sua dimensão universal. A universidade pode contribuir com a elevação cultural de um povo, mas somente se conseguir ter a grandeza de se educar com ele. Para além de uma instituição de ensino, a universidade enquanto uma possibilidade pode vir a ser também um grande encontro da e na cidade, com e para as pessoas, a favor das maiorias sociais.

    Apresentamos o primeiro número deste boletim, ao qual chamamos IKATÚ, que em guarani significa “possível”. Por acreditarmos que seja possível o encontro entre a cidade e a universidade. Como missão, assumimos o compromisso de contribuir para o encontro dos estudantes, servidores e professores da UFMG com a cidade de Belo Horizonte, com as lutas sociais que acontecem tão cotidianamente como as noites e os dias. O boletim IKATÚ é produzido por militantes e apoiadores/as das Brigadas Populares, e está aberto a aqueles e aquelas que como nós acreditamos na construção de uma cidade e uma universidade onde caibam todos e todas.